A Conferência Livre de Vigilância em Saúde Fiocruz - Direito, conquista e defesa de um SUS público e de qualidade, realizada no Museu da Vida, em Manguinhos (RJ), marcou a preparação da instituição para a 1ª Conferência Nacional de Vigilância em Saúde (CNVS), que acontecerá em novembro, em Brasília. O evento foi aberto pela presidente da Fiocruz, Nísia Trindade de Lima, que ressaltou a importância de mobilizar os diferentes saberes e práticas da Fiocruz para o encontro. "É muito rico ter uma conferência que converge tantas áreas da Fundação. Isso permite que trabalhemos essa agenda ampla em vários campos do conhecimento e a minha expectativa é que tenhamos uma contribuição muito forte", afirmou Nísia.
O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Ronald dos Santos Ferreira, que também participou do encontro, falou sobre o "desmanche da democracia e os desafios encontrados nos últimos meses causados pelos retrocessos das reformas do novo governo". Segundo ele, a principal dificuldade de avanço entre os modelos de organização da saúde do país é o financiamento.
"O SUS tem um grande histórico de resistência nesse sistema. Nunca conseguimos de fato superar esse crônico subfinanciamento de um sistema que sobrevive com pouco. Num momento em que o Brasil está num caminho de retrocessos, as conferências de Vigilância em Saúde são uma luz na escuridão. A Fiocruz, nesse cenário, é uma fonte poderosa de informação, inteligência e armazenamento das nossas melhores capacidades para desvendar os mistérios, seja das ciências mais duras ou mais leves, no sentido de oferecer o conhecimento para diminuir as incertezas e errar menos".
Ronald Ferreira dos Santos destacou ainda os importantes passos dados nos debates. "Já fizemos diversas atividades em conjunto com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), e nesse momento, em que estamos nos aproximando da fase final desse processo de debates e mobilização da sociedade brasileira, nós temos a importante tarefa de presentear o SUS, com uma política de vigilância em saúde", afirmou.
O papel estratégico da Fiocruz no debate da vigilância em saúde foi salientado pelo vice-presidente de Atenção, Ambiente e Promoção da Saúde da Fiocruz, Marco Menezes. "A conferência nacional é um evento estratégico para o país, dada a complexidade do momento presente e o cenário de retrocessos", disse, observando a seguir que o tema já vem sendo debatido em diversos fóruns institucionais. Ele destacou ainda a participação popular como eixo central e que a vigilância deve ser realizada a partir dos territórios. "Esse acúmulo de diálogos gera uma contribuição institucional muito rica e será apresentada aqui hoje e encaminhada para a própria conferência nacional".
O coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio da Cunha, a partir de uma exposição do cenário atual do Brasil, frisou a importância da Fiocruz. "É uma das protagonistas da discussão em algumas áreas e trouxe para o debate a violência como um componente fundamental, olhando-a como um problema de vigilância em saúde", disse.
Já Guilherme Franco Netto, representante da Abrasco na Comissão de Relatoria da Conferência Nacional de Vigilância em Saúde e assessor da área de Saúde e Ambiente da Fiocruz, afirmou que os resultados da conferência deverão ser uma contribuição relevante para o encontro nacional.
Ao falar sobre as contribuições da Fiocruz na Conferência Nacional de Vigilância em Saúde, a assessora técnica da Coordenação de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Tânia Fonseca, ressaltou que a história da instituição está intimamente ligada aos processos de vigilância em diálogo com a resistência. Também, de acordo com ela, é um compromisso institucional garantir a democracia nesses debates.
"Quando a gente olha para a instituição hoje, a gente vê um debate, um acesso e uma possibilidade de trabalhar com contribuições e contradições a todo tempo, e todas as unidades técnico-científicas e os escritórios regionais desenvolvem atividades no campo das vigilâncias", afirmou.
Tânia chamou a atenção para os desafios e objetivos encontrados para a política de vigilância em saúde, como as divergências políticas. “A história que vivemos hoje é uma história antiga, e que a gente revive várias vezes. Então temos que olhar com otimismo para as coisas e resistir, porque também nas dificuldades surgem oportunidades criativas”, pontuou.
Representantes da Fiocruz na 1ªCNVS
No evento, realizado em 17 de outubro, Maurício Monken, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e Marismary Horsth De Seta, pesquisadora do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) foram eleitos representantes da Fundação para 1ª Conferência Nacional de Vigilância em Saúde (CNVS).
No encontro, que reuniu cerca de 180 pessoas, foram debatidos os quatro eixos temáticos da Conferência: O Lugar da vigilância em saúde, Responsabilidade do Estado e dos governos com a vigilância em saúde e Saberes, práticas, processos de trabalhos e tecnologia na vigilância em saúde e Vigilância em Saúde participativa e democrática para enfretamento das iniquidades sociais em saúde.
Os debates foram conduzidos por alguns pesquisadores, que elaboraram textos para discussão, apontando lacunas, desafios e as contribuições da Fiocruz neste campo.
*Matheus Cruz e Regina Castro são jornalistas da Agencia Fiocruz de Notícias (AFN).
Crédito foto de capa: Peter Ilicciev - (CCS/Fiocruz).