Seminário será realizado no Rio, nesta semana, reunindo muitos indígenas e pesquisadores do Brasil e de fora. O encontro abordará a inclusão indígena nas universidades: há cada vez mais indígenas tornando-se mestres, doutores e pós-doutores, levando o seu olhar único, identidade e saberes tradicionais para a academia. Mas as universidades incorporam de fato conhecimentos de povos tradicionais em suas narrativas? Valorizam olhares que dialogam com outro conceito de tempo/espaço? Garantem a atuação de indígenas no desenvolvimento de pesquisas internacionais? E qual a importância destas reflexões em um momento em que direitos de comunidades tradicionais são questionados em várias partes do mundo?
Para dialogar sobre estes e outros pontos, estarão reunidos no Rio de Janeiro, representantes indígenas de dez países e acadêmicos não-indígenas que desenvolvem pesquisas em universidades do Reino Unido. O “Seminário Internacional sobre Atuação Indígena em Pesquisas Colaborativas e Valorização de Conhecimentos” acontece de 20 a 22 de março (Planetário do Rio e Museu do índio) e é uma coprodução da People’s Palace Projects e da Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu (AIKAX).
Estarão presentes vários nomes interessantes do Brasil e do mundo, entre eles, o pedagogo e antropólogo Tonico Benites, da etnia Guarani-Kaiowá, a jornalista Renata Tupinambá, que trabalha com etnomídia, o cineasta e coordenador do evento Takumã Kuikuro, do Alto Xingu, e o diretor e professor de teatro da Queen Mary University, de Londres, além de diversos nomes estrangeiros e brasileiros, entre pesquisadores indígenas e não indígenas.
Professor Santosh Kumar
Amrita School of Engeneering (Amrita Vishwa Vidyapeetham)
Índia
Desenvolveu, ao lado do professor Gareth Loudon, da Cardiff Netropolitan University, do País de Gales, um estudo de caso com comunidades indígenas do estado de Kerala na Índia dobre a utilização de técnicas de design thinking para a melhoria das condições de saúde e bem-estar destas populações.
A ideia principal foi o engajamento e empoderamento destas comunidades, colocando as pessoas no centro das decisões e soluções apresentadas. Ou seja, os indígenas foram colocados como protagonistas das ações, ajudando a gerar ideias e soluções para os problemas apresentados.
Os nativos indígenas representam 8,6% da população da Índia, mas no distrito de Wayanad, em Kerala, onde a pesquisa foi feita, eles somam 17% da população (cerca de 140 mil pessoas). Enquanto a expectativa de vida em Kerala é de 74,9 anos (Census Índia, 2011), a média dos indígenas em Wayand é de cerca de 45 anos. Pobreza e expulsão de suas terras são as principais causas da mortalidade precoce desta população.
Tonico Benites
Importante liderança da etnia Guarani-Kaiowá, Tonico Benites é pedagogo, com mestrado e doutorado em antropologia social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi o pioneiro em alcançar tal título, levando à academia a ótica indígena sobre os conflitos de terra no Mato Grosso do Sul.
Ele fala sobre a importância da territorialidade para os Guarani-Kaiowá, tendo em vista as atividades que permitam a sobrevivência e o forte sentimento religioso de pertencimento à terra - eles entendem que foram destinados a viver e a cuidar de seu território. Uma missão complicada, já que diversos conflitos violentos ocorrem na região, sobretudo com fazendeiros e grandes proprietários de terra que invadem territórios indígenas e ameaçam suas lideranças de morte.
A sugestão é uma entrevista com Benites abordando como está a situação atual dos Guarani-Kaiowá, como ficou a nova demarcação, que estava em curso, o que vem sendo feito, dados recentes e decorrentes aos conflitos, quais os próximos passos e perspectivas.
Ela participa do “Seminário Internacional sobre Atuação Indígena em Pesquisas Colaborativas e Valorização de Conhecimentos” acontece de 20 a 22 de março no Rio de Janeiro (Planetário do Rio e Museu do índio), na mesa “Reflexões sobre pesquisa participativa de geografias indígenas: a experiência dos Guarani-Kaiowá”, ao lado do Professor Doutor Antonio A.R. Ioris, da Cardiff University (País de Gales).
Renata Machado Tupinambá
Da etnia tupinambá, Renata é jornalista, poeta, cofundadora da Web Rádio Yandê - que existe há quase 13 anos e criadora do podcast Originárias, primeiro no Brasil de entrevistas com artistas e músicos indígenas em plataformas como o Spotify.
Ex-aluna do curso de roteiro da Escola de Cinema Darcy Ribeiro, ela destaca a necessidade de os índios serem protagonistas de suas próprias histórias, deixando de ser objetos de outras narrativas, e da importância de o cinema indígena ter sua identidade. Ela defende a visibilidade da cultura deles como forma para quebrar preconceitos que a sociedade tem em relação à realidade indígena, trabalha com o conceito de etnomídia e denuncia o que chama de “colonização audiovisual”.
Ela participa do “Seminário Internacional sobre Atuação Indígena em Pesquisas Colaborativas e Valorização de Conhecimentos” acontece de 20 a 22 de março no Rio de Janeiro (Planetário do Rio e Museu do índio), na mesa “Racismo e antirracismo no Brasil - o caso das populações indígenas”.
Takumã Kuikuro
Cineasta premiado, Takumã pertence à etnia Kuikuro, do Alto Xingu, Mato Grosso. Seu primeiro contato com o audiovisual foi aos 12 anos, auxiliando uma equipe de TV que visitou sua aldeia. Mais tarde, participou do projeto “Vídeo nas Aldeias” e estudou na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro.
Takumã dirigiu vários filmes que circularam no Brasil e no mundo e seu primeiro longa-metragem, As Hipermulheres (2011), entrou em circuito comercial . Segundo ele, o cinema chegou à aldeia como uma ferramenta para preservar a cultura indígena. “Não chamamos de cinema, mas de identidade do registro de nossa história, para ficar na memória de outras gerações”.
Kuikuro pode falar sobre a importância do cinema para valorização das comunidades indígenas, identidade cultural, resistência e produção artística a partir do olhar dos povos tradicionais. “Gravamos, além do ritual e das festas, as músicas e as histórias na sequência como elas têm que ser ensinadas. Através do cinema, estamos nos conhecendo, mas não só os Kuikuros. É uma troca de olhares importantes entre todos os povos indígenas do Brasil. Estamos mostrando quem são esses os povos para o mundo”, diz.
Pelenise Alofa
Professora da University of South Pacific e coordenadora da ONG Kiribati Climate Action Network
Natural de Kiribati, arquipélago no Oceano Pacífico com 100 mil habitantes, que corre o risco de desaparecer com o aumento do nível do mar resultante do aquecimento global, Pelenise Alofa é ativista ambiental com foco nas consequências das mudanças climáticas para os povos tradicionais da região.
As mudanças climáticas atingem diretamente - e cada vez mais frequentemente - as populações do Pacífico Sul. Além do desaparecimento de cidades e países inteiros, elas agravam tragédias e problemas na região - como enchentes e inundações causadas pelas fortes chuvas dos últimos anos, algo incomum no arquipélago.
A consequência disso é que a população de uma das regiões de Kiribati, Tarawa, cerca de 50 mil pessoas, corre o risco de ser removida para outro local, maior, mais limpo e com mais estrutura, mas que - ao deslocar o povo de seu ambiente tradicional - ameaça o modo de vida, a tradição e a cultura local.
Esta preocupação é uma das principais bandeiras de Pelenise, que coordena uma rede de ONGs do Pacífico Sul que cobra atitudes e posicionamentos das autoridades não só de Kiribati, mas de países vizinhos como Austrália e Nova Zelândia e atua na defesa do meio ambiente e preservação das culturas e conhecimentos de povos tradicionais.
No link, artigo que Pelenise escreveu para o jornal britânico The Guardian, sobre a situação de seu povo: https://www.theguardian.com/world/poverty-matters/2010/nov/09/kiribati-climate-change-voices-blog