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terça-feira, 14 de abril de 2015

O louco no hospital geral: tema de pesquisa da ENSP


Com a proposição de explorar o imaginário sobre a loucura e suas possíveis implicações para o cuidado integral ao paciente com transtorno mental severo internado em unidades não-psiquiátricas do hospital geral, a aluna de mestrado em Saúde Pública da ENSP Marina Fernandes do Prado desenvolveu sua pesquisa, orientada pela pesquisadora Marilene de Castilho Sá. "A presença do louco no hospital geral (espaço de alta densidade/concentração tecnológica, elevada padronização de procedimentos e rotinas) e as construções imaginárias que ele tende a suscitar podem desestabilizar os pactos e as alianças inconscientes que os profissionais de saúde e gestores, como quaisquer membros de organizações, comumente estabelecem entre si, o que também desestabiliza a dinâmica organizacional", apontou ela.

“Reconheço como característica comum a todo trabalho em saúde seu caráter eminentemente intersubjetivo, protagonizando a cena terapêutica pelo menos dois sujeitos - o profissional de saúde e o paciente - o que nos faz admitir os reflexos dos processos inconscientes para a produção do cuidado assistencial.” Para Marina, a produção desse cuidado é um desafio para esses serviços e consiste num tema ainda pouco discutido no Brasil, seja no âmbito das políticas públicas, seja na própria academia.

Segundo ela, o intenso trabalho psíquico dos profissionais envolve fantasias inconscientes, representações e afetos, muitas vezes ambivalentes, com relação ao paciente. A construção teórica que a aluna desenvolveu na pesquisa sugere que o imaginário social instituído acerca da loucura, apreendida segundo características de imprevisibilidade, periculosidade e desordem, pode desfavorecer a construção de identificações positivas entre o profissional de saúde e o paciente com transtorno mental grave. Isso impacta negativamente as práticas de cuidado, especialmente no hospital geral, espaço de alta densidade/concentração tecnológica, elevada padronização de procedimentos e rotinas, apresentando, em geral, pouco espaço para interações mais livres entre pacientes e profissionais.

Seu estudo teórico teve como principais categorias de análise o cuidado integral, o imaginário, o trabalho em saúde e as representações sobre a loucura, tomando como um dos conceitos centrais o imaginário social, segundo Cornelius Castoriadis; as principais noções de cuidado desenvolvidas no campo da saúde coletiva; elementos da história da loucura, a partir de uma leitura foucaultiana; e as contribuições da psicossociologia francesa, de base psicanalítica, na discussão sobre as organizações.

Marina Fernandes do Prado é graduada em Psicologia (Unesp/2008), com pós-graduação lato sensuem Psicologia em Hospital Geral (USP/2010), Residência Multiprofissional em Saúde da Família (ENSP/2013). Atuou no Centro Municipal de Saúde Madre Teresa de Calcutá como coordenadora e facilitadora de oficinas junto a equipes de Saúde da Família, e no Hospital das Clínicas da USP com psicoterapia individual (infantil e de adultos); grupos de orientação; interconsultas com equipe multidisciplinar de saúde; processos de triagem e acompanhamento de familiares; atuação ambulatorial e em enfermaria na clínica de oftalmologia e imunologia com pacientes soropositivos para HIV.