A pesquisa “Percepções da Crise”, divulgada pelo FGV Social no último dia 17 de outubro, mostra como o brasileiro enxerga aspectos diversos do contexto político e social. A partir dos microdados do Gallup World Poll, o FGV Social comparou a percepção do brasileiro com a de 124 países.
“Costumamos achar que o mundo está complicado e o Brasil também está. Na verdade o Brasil está bem mais complicado”, destaca o diretor do FGV Social e autor da pesquisa, Marcelo Neri.
Os dados subjetivos em escala global, mostrados na pesquisa, trazem luzes sobre valores e particularidades da situação brasileira em curso. O estudo comparou a evolução da percepção dos brasileiros com a de 124 países em alguns dos temas mais sensíveis do contexto atual: medo da violência, descrença no sistema político e falta de confiança estatal. Estes dados colocam o Brasil como o penúltimo pior em cada um desses quesitos entre todos os países pesquisados em 2017, pior ano da série brasileira.
O estudo também mostrou que 68% se sentem inseguros em andar à noite na área de moradia no Brasil; só 14% acreditam na honestidade das eleições e 82% não confiam no Governo Federal. Só ganha do Afeganistão nos dois primeiros quesitos e da Bósnia no último. Estes números ajudam a entender a prioridade atribuída a segurança, a falta de transparência do processo eleitoral e ao desarranjo do Estado no momento político brasileiro atual.
A renovação dos quadros políticos tradicionais, manifestada no primeiro turno da eleição de 2018, pode ser compreendida a partir da taxa de desaprovação das lideranças políticas brasileiras de 86%. Não foi apenas a maior desaprovação do planeta no último ano, como também a mais alta da série histórica analisada em mais de 733 casos (número de países vezes anos pesquisados). Ou seja, um recorde nas séries mundiais no curso da presente década.
Segundo o estudo, os extremos assumidos pelas percepções dos brasileiros captadas numa extensa lista de países, incluindo os mais pobres, sugere situação psicossocial crítica. Por sua vez, a trajetória das séries subjetivas dessa década levou ao estudo das causas objetivas e subjetivas das manifestações de 2013, um dos principais marcos da sociedade brasileira em sua história recente.
A fim de entender as percepções, as manifestações de rua e a natureza dos desafios à frente, é preciso de uma visão de prazo mais longo sobre os principais avanços e percalços sociais e econômicos brasileiros. Tomando como pano de fundo indicadores objetivos em escala mundial, houve avanços na distribuição de renda, na educação e na expectativa de vida brasileira. Contudo, segundo Neri, “não fomos capazes de avançar em limitadores de performance econômica como a produtividade do trabalho e o equilíbrio fiscal. Tudo se passa como se neste período o social tenha avançado sem fundamentação econômica. Este descompasso seria indicativo da necessidade de reformas estruturais que alinhem os dois lados da equação socioeconômica, e permitam ao fim atender as aspirações brasileiras”.
O estudo completo está disponível no site.