Carlos Saldanha esteve no Rio determinado a gozar merecidas férias mas, aparentemente, Rio, seu mais recente longa-metragem de animação, visto por quase 6,5 milhões de brasileiros, não pretende lhe dar folga tão cedo. O animador carioca esteve no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) para inaugurar a exposição Rio: A arte da animação, inspirada no desenho animado, que é sucesso no mundo inteiro, evento que marca o lançamento da versão em DVD e Blu-Ray 3D do desenho animado.
Saldanha também é uma das atrações confirmadas da 15ª edição do Anima Mundi (15 a 24 de julho), durante o qual fará parte de um bate-papo sobre sua obra e de um debate sobre os rumos do gênero no mercado. "Vou passar minhas férias trabalhando", concorda um sorridente Saldanha.
Patrocinada pela prefeitura da cidade, em apoio intermediado pela distribuidora Riofilme, a exposição, aberta ao público desde o dia 8, promove um passeio pelos bastidores da história de Blu, a arara-azul domesticada por americanos que se aventura pelas ruas do Rio de Janeiro. A Sala Bernadelli do MNBA foi ocupada por elementos do enredo do desenho animado, como paisagens, páginas do roteiro original, storyboards e esboços dos cenários.
O visitante poderá também interagir com alguns personagens da trama de Rio, protagonizada por aves, cães, micos e até seres humanos. "Preparamos um making of especialmente para este evento, centrado no processo de animação em 3D", avisa o animador, que completa 43 anos dia 20. "O grande barato dessa exposição é que ela atrairá um público novo para o Museu Nacional de Belas Artes. Acredito que muita criança estará colocando o pé num museu pela primeira vez", adianta o realizador por trás do sucesso da franquia A era do gelo.
Orçado em US$ 90 milhões, Rio conquistou o coração de crianças e adultos do mundo inteiro. Arrecadou mais de US$ 140 milhões só nos Estados Unidos, mas fez bonito também em vários outros territórios, alguns deles inesperados. "Para nossa surpresa, fomos muito bem recebido em países como a Rússia, Argentina, Colômbia e Venezuela. Neste último, ele ainda é a maior bilheteria do ano. A América Latina, como um todo, foi muito bem. Rio conseguiu colocar a cidade no mapa mundial", analisa Saldanha.
O animador acredita que o tamanho da recepção do público estrangeiro a Rio está na forma como o desenho animado reúne elementos que são marca registrada da cidade. "Tem gente que conhece uma ou outra referência sobre a cidade, como a música, o Carnaval, a natureza, as favelas. Mas nenhum outro filme foi capaz de juntar todas elas num mesmo trabalho, e que fosse capaz de seduzir espectadores de todas as idades. Cidade de Deus, por exemplo, só é conhecido por adultos", compara.
Lançado em diferentes países no dia 8 de abril, Riofaturou mais de US$ 370 milhões em menos de um mês em cartaz nos cinemas do planeta. A Blue Sky Studios, fundada pelo brasileiro, e a Twentieh Century Fox Animation, estúdios por trás do filme, já pensam em uma sequência para a história de Blu. "Ainda não temos nada de concreto a respeito, porque mal digerimos a repercussão do primeiro filme, mas é certo que uma recepção como esta só alimenta a nossa vontade de voltar aos personagens", adianta Saldanha.
Enquanto sonha com um possível desdobramento para Rio, Saldanha acompanha a confecção do quarto capítulo de A era do gelo, dirigido por Steve Martino e Mike Thurmeier, agendado para chegar aos cinemas americanos em julho de 2012. Pensa também em produzirO touro Ferdinando, a partir do livro infantil de Munro Leaf. "As franquias se sustentam por boas ideias. Enquanto tivermos algo interessante para contar sobre personagens já conhecidos, continuaremos fazendo filmes sobre eles. Mas, na verdade, o que se vê por aí é muita franquia mantida pelo sucesso financeiro, apenas. É difícil resistir a fazer um novo Piratas do Caribe quando o anterior arrecadou mais de US$ 1 bilhão, não?", pondera Saldanha.
Como de praxe, o DVD e o Blu-Ray 3D traz sequências deletadas e material explicativo sobre o processo de animação. "A grande novidade é que é que Rio é o primeiro filme da Fox que poderá ser visto pelo brasileiro em 3D dentro de casa, na versão Blu-Ray 3D”, observa o animador, que acredita ter vindo o recurso da projeção tridimensional para ficar. "A qualidade da imagem é melhor e, portanto, a experiência do espectador, também. Particularmente quando um filme é pensado para a técnica de 3D. Os filmes feitos em 2D e adaptados para o 3D não têm o mesmo resultado".