“Eu queria captar o olhar mais simples possível, que os moradores fossem retratados no seu dia a dia. São pessoas lavando roupa, no sofá, sorrindo”, disse ao UOL Notícias Terranova de 47 anos, 35 deles na fotografia.
Após frequentar intensamente a comunidade por cinco anos, ele sentiu que também era importante captar o espaço arquitetônico da favela. “A favela tem uma arquitetura própria, uma forma de construção diferente e de equilíbrio. Isso é muito bonito e não deve ser deixado de lado. O espaço na favela determina como as pessoas são e como vivem”, afirmou.
O que o motivou a desenvolver este trabalho, conta Terranova, foi uma reportagem sobre crianças vítimas de bala perdida publicada há 14 anos. Esta tragédia foi o que o inspirou a percorrer as vielas e becos da favela para ver um pouco mais o rosto de crianças e moradores que, na época, ainda viviam sob o domínio do tráfico de drogas.
“Eu vi uma matéria sobre dados do IBGE que alertava para a quantidade de crianças que morriam vítimas de balas perdidas. Fiquei surpreso, os dados eram alarmantes. Então imaginei um personagem que seria um anjo que corria pela comunidade ajudando as pessoas, mas depois de frequentar a comunidade por um período longo, percebi que eram as pessoas da comunidade os próprios anjos. Os verdadeiros anjos são os moradores que vivem e trabalham”, contou.
O trabalho ganhou forma com a parceria do fotógrafo com o produtor, rapper e poeta Kadão Costa, nascido e criado no Santa Marta. Kadão escreve poemas urbanos que acompanham as fotografias.
Foi Kadão quem abriu as portas da comunidade e ajudou na aproximação com os moradores, conta Terranova. “Fui bem recebido pela comunidade. Meu trabalho só existe por causa da parceria com o Kadão. Eu deixei de ser um estranho na comunidade”, ressaltou.
A exposição está aberta ao público até 22 de outubro no Baukurs Cultural (rua Goethe, 15, Botafogo, Rio de Janeiro).
O trabalho foi exposto pela primeira vez em 2003, na Igreja Santa Marta, no alto do morro, como parte do Foto Rio 2003.
Terranova trabalhou como repórter fotográfico no Jornal do Brasil e, em 1999, ganhou o primeiro Prêmio Esso de sua carreira.
Em 2003, lançou o livro “Montanhas do Rio”, no qual registrou imagens de alpinistas, tendo como pano de fundo a paisagem sinuosa da cidade. Há 20 anos, participa do projeto “Subúrbios”, com exposições temáticas em alguns bairros da cidade.