TENDÊNCIA E REALIDADE
Quantos tem a coragem de assumir uma postura frente ao que realmente acredita? E ao que realmente acredita? E ao assumirem uma postura profissional em Educação, quem são aqueles que lutam e aplicam o que assimilaram ao longo de sua prática e de seus estudos?
Vivência-se enquanto discentes diversas linhas metodológicas, teorias e utopias de docentes comprometidos em sistemas estabelecidos das instituições que lecionam ou pesquisam. O aluno por empatia, filosofia ou desconhecimento acaba por se enganar e propagar a mesma tendência. Isso é positivo? Não, o raciocínio levado a distanciar-se das operações concretas e abstrair o conhecimento, deve ser livre, propiciando uma absorção emocional-filosófica e social.
No passado, ao tão remoto depara-se com uma educação clássica, formal, a qual o conhecimento era preservado em esquemas pré-moldados e na avaliação sistemática de resultados.
O professor, figura máxima da autoridade e do suposto conhecimento, revela-se um priorizador de respostas exatas e de alunos “brilhantes”. A escolha de turmas em escolas públicas ou particulares era um momento de premiação ou castigo, dependendo do grau de “amizade” pedagógica ou desempenho do professor. A “tia” ou “tio” ficavam na expectativa de pegar as turmas em que os alunos não tivessem mau comportamento e boas notas.
Este fato é um retrato, preto-e-branco das dificuldades da observação do outro como um ser completo, com necessidades emocionais e sociais, as quais deveriam ser preenchidas.
A escola tradicional é um marco, uma conotação ruidosa do muro de Berlim, que com o tempo ruiu para o surgimento da valorização do ser integral em detrimento da “Pedagogia dos Conteúdos”.
Segundo Lauro de Oliveira Lima, em seu livro a Escola Secundária Moderna, a criança em desenvolvimento responde melhor quando não é pressionada, levando-a a refletir e desenvolver seu pensamento.
Com o surgimento da escola nova, chamada progressista, desnudou-se a figura do autoritarismo e surgiu o orientador, o fomentador de questionamentos, que possibilita o desenvolvimento do raciocínio e do emocional.
O surgimento de uma pedagogia crítica, representada por teóricos como Henry Giroux, Eric Fromn, Adorno e Hebert Marcuse, foi fundamentada na convicção de que a escolarização para habilitação pessoal e social está relacionada com a dimensão moral transmitida na prática pedagógica.
Vários foram os estudiosos que contabilizaram para as linhas filosóficas de base para a escola progressista, podemos citar Summerwil, Piaget, Montessori, Freinet, Freire, Teixeira, Lúria, Ferreiro, Vigotisk, entre outros.
Piaget, um dos autores mais significativos, representou, mesmo não sendo um educador e sim biólogo, um marco na educação moderna pelos seus estudos em Epistemologia Genética e suas conseqüências no desenvolvimento humano. Tendo estudado e teorizado a gênese do pensamento das crianças, relacionando-as com a sua maturidade sócio-emocional.
O Construtivismo toma Piaget, como um de seus pais, pela contribuição de suas pesquisas e resultados práticos em escolas experimentais. Em A Representação do Mundo na Criança, percebemos o enfoque dado à questão do realismo e a construção do pensamento.
Piaget (1926) sobre isso afirma:
“A criança é realista porque ignora a existência dom sujeito e a interioridade do pensamento. Deve-se, portanto esperar que ela experimente grandes dificuldades em explicar-se quanto ao fenômeno mais subjetivo...” (p.76)
Uma das linhas metodológicas mais seguidas e utilizadas pela escola progressista, o construtivismo, representa uma revolução nos processos de aprendizagem e numa nova visão do desenvolvimento intelectual.
G.S. Kostiuk (1991) diz que:
“O ensino nas nossas escolas não pode limitar-se apenas a transmitir ao discípulo, determinados conhecimentos, a formar um mínimo de aptidões e de hábitos”. A sua tarefa é desenvolver o pensamento dos alunos, a sua capacidade de analisar e generalizar os fenômenos da realidade, de raciocinar corretamente; numa palavra, desenvolver “no todo” as suas faculdades materiais. (p.25)
As três linhas oferecem pontos em que se requer reflexão e constantes estudos, porém a tendência atual tende ainda a escola progressista, tendo ao seu lado um pouco atrás a linha crítica.
Ao examinarmos enquanto docente a prática pedagógica nos leva a aplicar um sistema que se favoreça a construção do conhecimento, sem deixarmos de lado a formação ética-social do indivíduo.
Acredito que pela utilização do construtivismo na escola progressista, tivemos diversos avanços, como uma repensagem nas aplicações de avaliação e no sentido de grupo (operacionalizando na escola, os princípios de uma socialização democrática).
A universidade como um todo deve servir de base para uma nova sociedade, e ela é única na oportunidade que tem de promover mudanças visando assumir a sua condução.
Parte fundamental dessa estratégia de conquista a uma nova sociedade é o fortalecimento da estrutura de pesquisa, da educação continuada e incremento na perspectiva de aperfeiçoamento do ser integral, através do desenvolvimento seu potencial acadêmico.
A proposta progressista permite uma avaliação constante das perspectivas e das freqüentes mudanças necessárias à conquista deste ideal, da pré-escola até a universidade.
Vigotsky (1989) afirma:
“Os problemas encontrados na análise psicológica do ensino não podem ser corretamente resolvidos ou mesmo formulados sem nos referirmos à relação entre o aprendizado e o desenvolvimento em crianças em idade escolar”. (p.89)
Enquanto Ser e educador, posso modificar meu ambiente, posso reestruturar meu pensamento, e encontro em vivências, motivação para continuar aprendendo.
BIBLIOGRAFIA:
1. Piaget, Jean; A Representação do Número na Criança; Ed. Record; 1978;
Rio de Janeiro; RJ.
2. Piaget, Jean; O Raciocínio da Criança; Ed. Record; 1979: Rio de Janeiro;
RJ.
3. Luria, Leontiev, Vigotisk e outros; Psicologia e Pedagogia; Ed.Moraes;
1991; São Paulo; SP.
4. Vigotisk, L.S.; A Formação Social da Mente; Ed. Martins Fontes; São
Paulo; SP.