A trajetória do grafite no Brasil e sua inserção no universo da arte contemporânea deve, em parte, seu sucesso a um grupo de artistas paulistanos da década de 80 com estilo marcado. Mais que isso essa geração avançou e cônscia de seu papel deu forma a um circuito artístico próprio. Tinho é um desses nomes. A obra desse artista como parte de uma geração cônscia de seu papel artístico é assumir que a produção de grafite é estratégia poética de conhecimento da própria cidade e com coragem assumir esse campo de forças polifônicas dissonantes
Podemos observar em sua produção a consciência atuante e a atuação consciente do artista que não faz por menos e assume a importância da produção do grafite paulistano para a cena brasileira. O graffiti ganha contornos de crítica lúcida e se desenvolve como um programa de conhecimento da própria cidade, a partir de um contato preciso, insistente e sem mediações com o território urbano. É com esse universo que Tinho estabelece um diálogo inteligente com a história da arte, recurso de sua formação acadêmica, quando recorre a argumentos visuais para desenvolver sua pesquisa artística, como a colagem, a performance e o investimento nas texturas marcadas. Mas produz uma espécie de conversão de sentido, um curto-circuito quando invade a tela e substitui o plano pelo contexto, a ocupação racional pela colagem, onde convivem poeticamente fúria e delicadeza, angústia e ingenuidade, martírio e sedução. Elabora com muita precisão essa visualidade sonora ao propor um olhar-ouvir suas obras.
A multiplicação das formas e os investimentos plásticos enunciam sua pesquisa e seus empreendimentos visuais que gritam, articulam-se mas não perdem o compromisso assumido por sua geração em falar em nome da cidade que é e que se quer ao denunciar seus problemas, riscar sua opressão, avançar sobre suas fronteiras, arriscar outras formas.
A solidez da obra de Tinho reside em dois fatores plásticos marcantes – a perpetuação da ação nas ruas como dinâmica criativa, poética e produtiva e a estratégia da figuração como convite ao olhar do transeunte. O artista avança em sua pesquisa e dialoga com a colagem, reconfigurando o debate inteligente sobre suporte, meio e presença em uma lógica de ocupação que é comandada pelo excesso de truculência, poder, dinheiro e consumo.
O vocabulário visual utilizado pelo artista é o recurso de um discurso sobre o ethos urbano, tão marcante em São Paulo, uma topologia onde as formas são inventadas mas nem por isso desgarradas de uma função simbólica objetiva. Cheio de referências, o artista convoca o tempo inteiro esse ser urbano e caótico, implica o sujeito e exige participação quando trata a pauta do dia.
Charbelly Estrella
A chegada de Pedro, O Grande – Técnica mista sobre madeira – 220 x 160 cm – 2011
Um escolha muito difícil – Técnica mista sobre madeira – 220 x 160 cm – 2011
Fora do nosso controle – Óleo sobre tela – 200 x 150 cm – 2011
Conversando com meus mestres do passado – Óleo sobre tela – 120 x 90 cm – 2011
Chute contra o sistema – Óleo sobre tela – 80 x 120 cm – 2011
Little angels lives forever – Óleo sobre tela – 120 x 90 cm – 2011
Estado de suspensão – Técnica mista sobre tela – 40 x 70 cm – 2011
Paisagem bucólica – Óleo sobre tela – 90 x 110,5 cm – 2011
Prazeres – Óleo sobre tela – 90 x 120 cm – 2011
Garota de Vermelho – Spray sobre madeira – 82 x 65 cm – 2011
Fight the power! – Técnica mista sobre madeira – 80 x 70,5 cm – 2011
Pesadelo – Técnica mista sobre madeira – 63 x 49 cm – 2011
Instalação ‘A Cidade Fala’ – Técnica mista sobre madeira e caixas de som – medidas variadas – 2011