Em sua segunda edição, a Conferência Livre de Saúde em Manguinhos refletiu sobre os principais problemas que afetam o local. O encontro, que reuniu moradores e trabalhadores do território, aconteceu na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), em 30 de mar/3, e adotou o lema da 16ª edição da Conferência Nacional de Saúde: Saúde e Democracia.
A mesa de abertura contou com as participações do diretor da ENSP/Fiocruz, Hermano Castro; do chefe de Gabinete da Presidência, Valcler Rangel; da diretora da EPSJV, Ana Keila de Barros Stauffer; do diretor de Comunicação da Asfoc, Gutemberg Brito; da representante do Conselho Gestor Intersetorial do Teias-Escola Manguinhos (CGI), Darcília Alves; e a moderadora foi a moradora do território Patrícia Evangelista.
Na ocasião, o diretor da ENSP destacou o posicionamento institucional da Escola e da Fiocruz em tentar construir, com os moradores, uma política de saúde, dentro do território, que enfrente todas as formas de violência. Hermano destacou, ainda, as dificuldades institucionais em manter os equipamentos de saúde para a população com os cortes de recursos do município. “Aumentou o desmonte do setor Saúde, a política de privatização, o desemprego e, consequentemente, a violência”, afirmou o diretor da ENSP sobre os planos de governo em âmbito municipal, estadual e federal.
Em seguida, Valcler assegurou que o encontro é importante para subsidiar as discussões que serão levadas para a 16ª Conferência Nacional de Saúde, pois o contexto atual, para ele, coloca a organização dos movimentos sociais e populares como desafio. “A 16ª Conferência exige muita mobilização, porque precisa discutir ações para enfrentar a crise da democracia que o país vivencia. Combater aqueles que desejam amplificar a desigualdade. Somente 1% da população concentra a riqueza brasileira à custa da pobreza da maioria.”
Ana Keila contextualizou historicamente o início da participação social na Conferência de Saúde. Do mesmo modo, refletiu sobre as conquistas dos movimentos sociais e os desafios impostos nesse período histórico. Por isso, “é importante a gente reforçar nossos coletivos dentro de Manguinhos, e, sempre com essa visão, somos parte da classe trabalhadora e da mesma humanidade”.
Gutemberg evocou a lembrança “do espírito da 8ª Conferência Nacional de Saúde e das conquistas da Constituição de 1988. Ambas caminharam no sentido do reconhecimento da saúde como um direito do cidadão e um dever do Estado”. Dessa forma, convocou todos a lutar para que a 16ª Conferência Nacional de Saúde defenda a saúde e o bem-estar social como elementos centrais e prioritários de qualquer projeto de desenvolvimento econômico a ser adotado pelo país.
Segundo Darcília, os moradores de Manguinhos passam, diariamente, por vários tipos de violência e, por essa razão, é importante que todos participem dessa luta por uma saúde para todos. Além disso, “precisamos transferir o conhecimento para aqueles que não puderam estar presentes”.
Após a mesa de abertura, ocorreu a palestra da médica de família e comunidade da Clínica da Família Victor Valla, Valeska Antunes. Ela, que integra atualmente a equipe do Consultório da Rua, informou sobre o ataque que vem sendo estruturado, há algum tempo, à Atenção Básica de Saúde ou Atenção Primária, “que é onde está a base de organização desse sistema de saúde”. Para Valeska, a prefeitura está enxugando o investimento do Sistema Único de Saúde. Com isso, houve a redução do número de equipes de Saúde da Família que trabalham no município do Rio de Janeiro.
Além das discussões nas mesas e rodas de conversa, a conferência de Manguinhos abarcou o conceito ampliado de saúde preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é o completo bem-estar social, físico e mental. A seriedade das discussões foi complementada pela descontração do momento "artivista", com palhaços e o bloco "Saúde que Luta", formado por músicos, artistas e ativistas.