Motivadas pelo desastre em 2015 na barragem da Mineradora Samarco, localizada no subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, as artistas Cristiani Papini, Inês Antonini, Lorena D’Arc e Regina Paula Mota apresentam um conjunto de obras a partir da ruína. O trabalho da arte na mostra “Arqueologia da Destruição” é o enfrentamento dos processos de destruição e ruptura, vivenciados em suas poéticas e processos artísticos.
A prevalência do barro como suporte da expressão não é mera coincidência. Trata-se do desafio de reconstruir a partir do caos - metáforas da lama e da vida.
No trabalho de Inês Antonini, une-se a tradição da cerâmica oriental e a contingência do real. Os cacos da louça da avó, em si mesmo um desastre, reaparecem em pratos rústicos como traços da memória. Os derretimentos são narrativas da ação do fogo e do tempo, que ao destruírem também constroem o acaso. Lorena D’Arc apresenta uma obra refinada, em que a porcelana é também ultrajada pelo barro, que marca a passagem do tempo, da destruição e do esquecimento. Seus pequenos potes recobertos pela lama do desastre, expressam um tempo congelado, marcado pelos tons do minério e da dor.
Cristiani Papini e Regina Paula Mota enfrentam diretamente a tragédia de Mariana por meio de imagens na cerâmica, na fotografia e na pintura, deixando claras as referências nos registros reproduzidos ora em transferências sobre o barro, ou na delicada película do papel de arroz pela fotografia de Papini, que refaz no vazio o rio destruído. Seu rio modelado, apresenta no fluxo de suas ondas, a perda do brilho de suas águas puras. Na mesma vertente, os suvenires de Regina, ao invés de apresentarem paisagens bucólicas em suas superfícies, denunciam por meio de imagens turvas e relatos, a triste realidade local.
Em “Arqueologia da Destruição”, os trabalhos tratam da fragilidade e força da terra e da arte.