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domingo, 15 de maio de 2011

Exposição Literária sobre Fernando Pessoa

"FERNANDO PESSOA, PLURAL COMO O UNIVERSO"
Exposição no Centro Cultural Correios do Rio de Janeiro mostra as facetas do poeta português, que foi capaz de inventar e se reinventar por meio de diversos personagens fictícios ao longo de seus 47 anos de vida.

Depois de levar mais de 190 mil pessoas ao Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, de agosto de 2010 a fevereiro de 2011, a obra de um dos maiores poetas da língua portuguesa do século XX será celebrada no Centro Cultural Correios, no Centro do Rio, entre os dias 25 de março e 22 de maio. Em “Fernando Pessoa, plural como o universo”, o público tem a oportunidade de conhecer, ou reconhecer, algumas de suas personas, que se revelam nos versos assinados por seus heterônimos – personagens-poetas com identidade própria – e por pessoa “Ele-mesmo”. Com curadoria de Carlos Felipe Moisés e Richard Zenith e projeto cenográfico assinado por Helio Eichbauer, a exposição mostra toda a multiplicidade da obra de Pessoa e pretende conduzir o visitante a uma viagem sensorial pelo universo do poeta, fazendo-o ler, ver, sentir e ouvir a materialidade de suas palavras.
Com realização da Fundação Roberto Marinho, a exposição apresenta a vida-obra do poeta por meio de diferentes suportes. Em seu percurso, o visitante vai viajar pelos versos de alguns de seus heterônimos mais conhecidos, como Alberto Caeiro, o “poeta da natureza”; Ricardo Reis, médico e discípulo de Caeiro; Álvaro de Campos, um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa; e Bernardo Soares, autor do Livro do Desassossego. Também são apresentados trechos de poemas assinados pelo próprio, por heterônimos menos conhecidos e algumas de suas personalidades literárias, como o Barão de Teive, o prosador suicida.
O público terá ainda a oportunidade de ver algumas raridades, como a primeira edição do livro Mensagem, único publicado por ele em vida, e os dois números da revista Orpheu, um marco do modernismo em Portugal.
Para Carlos Felipe Moisés, um dos curadores, não é necessário conhecer previamente a obra do poeta para visitar a exposição. “Nosso propósito básico é levar Fernando Pessoa à vida do cidadão que não o conhece, e que, portanto, encontrará uma linguagem acessível. E àqueles que já estão familiarizados com seus versos, que terão a chance de descobrir aspectos e conceitos novos”, afirma. Moisés acredita que basta conviver com a obra de Pessoa para entendê-la e diz que isso deve ser feito em etapas para melhor assimilá-la. “Nossa intenção é provocar o público, fazer com que as pessoas fiquem intrigadas, inquietas e voltem para perceber a exposição de outras formas”. Segundo o também curador Richard Zenith, “a ideia é que essa relação também se estenda para fora dos domínios do Centro Cultural e seja atraente para os mais diferentes públicos”. Zenith espera que o visitante saia de lá disposto a ler e pesquisar sobre o poeta.
A exposição “Fernando Pessoa, plural como o universo” tem patrocínio da Rede Globo, do Itaú, do Banco Caixa Geral - Brasil e da Fundação Calouste Gulbenkian; apoio do Consulado Geral de Portugal, em São Paulo, da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, do Centro Cultural Correios do Rio de Janeiro, do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, e do Ministério da Cultura por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura; e produção da Fazer Arte.
O percurso da exposição
Com projeto assinado pelo cenógrafo Hélio Eichbauer, a exposição tem como identidade visual o Mar – de Sagres e todos os outros – e os diferentes tons de azul da água e do céu, remetendo à época dos descobrimentos e das grandes conquistas de Portugal, inspirada no livro Mensagem. De acordo com Eichbauer, “a ideia é sugerir viagens mentais e espirituais, em torno das ruas de Lisboa, das aventuras dos heterônimos e de Pessoa”. O cenógrafo afirma que foi um grande desafio pensar numa exposição para ser lida, porém, acredita que conseguiu, junto com os curadores, criar um espaço para quem gosta de ler, capaz de celebrar a palavra escrita, falada, ouvida.
Em uma das salas, o visitante poderá entrar em cinco cabines onde são projetados trechos de poemas do próprio Fernando Pessoa e de seus heterônimos mais conhecidos: Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares. A sexta cabine, chamada de “Eu sou muitos”, é dedicada a outras personalidades literárias criadas pelo poeta. Em outro espaço, o visitante entrará numa espécie de labirinto poético que mostra de forma lúdica e encantadora trechos de poesias e imagens de Fernando Pessoa, como forma de retratar suas várias personas.
O público também vai ver algumas relíquias, como o primeiro e segundo exemplar da revista Orpheu; três exemplares da revista Athena; seis exemplares da Revista do Comércio e da Contabilidade; a série completa de A Revista, de 1931; algumas edições da revista Águia, onde Pessoa publicou seus primeiros artigos, e da revista Presença, sucessora da Orpheu. A primeira edição do livro Mensagem, único publicado por ele em vida, ainda poderá ser folheada virtualmente com a ajuda de um e-reader gigante, instalado em cima de uma grande mesa comunitária, onde também estão espalhadas publicações dedicadas a obra de Pessoa, em vários idiomas.
Ainda dentro da concepção de Helio Eichbauer, inspirada no lado místico de Pessoa, há um grande pêndulo representando o Tempo. Ao lado dele, trechos de poemas são projetados e apagados pelo mar em tanques virtuais de areia. Na parede ao fundo, dois vídeos são projetados, como se fossem duas janelas. O primeiro, produzido pelo documentarista Carlos Nader com roteiro do poeta Antônio Cícero, mostra pessoas, em meio a uma multidão, recitando Pessoa. O segundo mostra uma imagem do mar, sempre em movimento, tirada do emblemático filme “Limite” (1931), de Mario Peixoto.
Por fim, o visitante poderá acompanhar a cronologia da vida-obra do poeta com a ajuda de imagens retiradas da recém-lançada fotobiografia produzida por Richard Zenith, um dos curadores.